Kirk Hammett Reflete Sobre Sua Evolução e Afirma: "Meus Solos no 'Black Album' Foram Perfeitos e Espontâneos"

Em uma recente entrevista à revista Metal Hammer, Kirk Hammett revelou que considera sua performance no icônico Black Album do Metallica como um dos pontos altos de sua carreira, destacando que os solos "se escreveram sozinhos".

5/31/20254 min read

Na mais recente edição da revista britânica Metal Hammer, o icônico guitarrista do Metallica, Kirk Hammett, compartilhou reflexões sinceras sobre sua trajetória musical, destacando o emblemático "Black Album" como o ápice de sua performance em estúdio. Para Hammett, os solos gravados no disco lançado em 1991 fluíram de maneira tão natural que “praticamente se escreveram sozinhos”.

“Minha opinião sobre isso muda o tempo todo”, confessou Kirk, ao ser questionado sobre qual álbum considera ter atingido sua melhor performance. “Não fico ouvindo Metallica por aí, então às vezes uma música toca e penso: ‘Caramba, não ouço isso há uns cinco anos. Tinha até esquecido desse som’. Não olho muito pelo retrovisor; a banda também não. Estamos sempre pensando: ‘Qual será a próxima coisa legal que podemos fazer?’”.

Mesmo assim, ele admite que durante o processo de gravação do Black Album, sentiu que sua execução estava no ponto ideal. “Naquela época, achei minha performance absolutamente certeira. Aqueles solos praticamente se escreveram sozinhos. Quase todos funcionaram imediatamente.”

O Desafio de "The Unforgiven" e a Descoberta da Improvisação

Apesar da fluidez, nem tudo foi simples no processo criativo. Hammett destacou que dois solos, em especial, exigiram mais dele: o de “The Unforgiven” e o de “My Friend of Misery”. O solo de “The Unforgiven”, em especial, se tornou um marco pessoal e artístico.

“Esse é um episódio bem documentado. Eu não estava preparado para aquele solo. Bob Rock [produtor] chegou a me acusar de não ter feito a lição de casa. Não entendi aquilo, porque tinha entrado no estúdio com várias ideias… mas elas simplesmente não funcionaram. Tive que descartar tudo e me vi completamente exposto, sem saber o que fazer”, relembra Hammett.

Com o incentivo de Bob Rock, que ajustou o timbre da guitarra e o encorajou a apenas tocar, Kirk se viu forçado a improvisar. “Eles disseram: ‘Simplesmente toque’. E eu pensei: ‘Argh!’. Tive, talvez, um minuto para entrar no clima, bloquear tudo e me concentrar emocionalmente. Ligaram a gravação e eu não fazia ideia do que iria tocar… mas algo sempre acaba surgindo.”

O resultado foi um solo carregado de emoção e espontaneidade, que redefiniu a maneira como Hammett encarava a composição de solos. “Depois daquilo, fiquei muito feliz, inspirado. Percebi que precisava fazer mais disso.”

Da Composição à Improvisação: Uma Nova Abordagem

A experiência com “The Unforgiven” foi tão transformadora que moldou o estilo de Kirk dali em diante. Se antes ele chegava ao estúdio com praticamente todas as ideias definidas, passou a valorizar a improvisação como ferramenta essencial na criação musical.

“No Black Album, eu cheguei com 80% das coisas trabalhadas e 20% foi improvisado, incluindo o solo de ‘The Unforgiven’. Hoje em dia prefiro fazer o oposto: 20% preparado e 80% improvisado. É mais emocionante, espontâneo e honesto”, explica.

Hammett defende que essa liberdade criativa traz mais autenticidade à música. “Não sei o que vai estar no álbum, tanto quanto qualquer outra pessoa. Fazer assim soa melhor, em vez de compor algo e forçar para que se encaixe. Às vezes, forçamos coisas que não combinam. A improvisação pura é mais real, mais humana.”

Críticas ao Solo de "Lux Æterna" e a Filosofia de "Tocar pela Canção"

Kirk também comentou sobre o recente debate envolvendo seu solo em “Lux Æterna”, do álbum 72 Seasons. O solo foi criticado por parte do público e até apontado por alguns como “o pior” de sua carreira. Alguns YouTubers chegaram a publicar suas próprias versões “melhoradas”.

O guitarrista, porém, encarou as críticas com bom humor: “Estava apenas rindo o tempo todo. Meus amigos ali da esquina provavelmente poderiam tocar um solo melhor que o de ‘Lux Æterna’ — mas qual é o objetivo disso? Para mim, o mais importante é tocar para a canção e para o momento”.

Hammett é categórico ao afirmar que seu estilo não é sobre ostentar técnica, mas sobre transmitir emoção. “Eu poderia muito bem juntar seis ou sete arpejos de três oitavas em semicolcheias, praticar isso todo dia e dizer: ‘Olha só o que eu consigo fazer!’. Mas onde vou colocar isso? Não funciona em uma música do Metallica. Arpejos? Por favor! Um solo mapeado, como muitos fazem, com quatro ou cinco acordes e um arpejo diferente sobre cada um? Parece um exercício. Não quero ouvir exercícios e aquecimentos toda vez que ouço uma música.”

Evolução Musical e Técnica a Serviço da Expressividade

Ainda assim, Hammett deixa claro que respeita a técnica e os músicos que a utilizam com propósito expressivo. “Os únicos caras que acho que realmente usam arpejos como meio de expressão são Joe Satriani, Yngwie Malmsteen e Paul Gilbert.”

Ele também reflete sobre como a música do Metallica evoluiu, e com ela, sua própria maneira de tocar. “Eu conheço meus modos, escalas húngaras, escalas simétricas, sei toda essa coisa. Era apropriado, talvez, no começo da nossa trajetória, mas agora não.”

Hoje, o foco é outro: melodias que se conectem emocionalmente com quem ouve. “O mais adequado é criar melodias mais próximas de linhas vocais. E adivinhe? A melhor escala para imitar melodias vocais é a pentatônica.”

"Tocar com o Coração" Como Norte Artístico

Kirk reforça que não se trata de desprezar a técnica, mas de priorizar a expressividade. “Adoro tocar com o coração, e já ouvi músicos super técnicos que também tocam com a alma. Allan Holdsworth, Eddie Van Halen, Joe Satriani, Yngwie… todos eles tocam com o coração. Mas, para muita gente, virou quase como esporte ou Olimpíadas.”

Para ele, a música deve refletir “beleza, criatividade, sentimento, vida”. E, embora admire os avanços técnicos da nova geração, defende que o fundamental é sempre “tocar para a canção”.

“Se você fizer isso, sua música terá muito mais integridade e poder duradouro”, conclui o guitarrista que, mesmo após mais de quatro décadas de estrada, segue evoluindo e inspirando gerações com sua autenticidade e paixão pela música.